Várias vezes fui questionada
pelos meus pacientes sobre o sal rosa do Himalaia. Nunca prescrevi, mas nunca
vi motivo para contraindicar... até então.
Nunca prescrevi porque:
· Não vejo a necessidade de pagar um preço
absurdo por um produto importado, sendo que temos opções nacionais de
qualidade.
· Sal (todos os tipos) são ricos principalmente
em sódio, que é um nutriente muito importante no nosso organismo, mas o excesso
faz mal. A quantidade recomendada de sal por dia é de menos de 5 g (que equivalem
a 2000 mg sódio), assim a quantidade de possíveis outros nutrientes presentes
no sal fariam pouca diferença na sua dieta.
Entretanto, em setembro
passado, em um congresso de nutrição (XIII
Congresso Internacional de Nutrição Funcional e Esportiva) surgiu a
polêmica: uma pesquisadora, a química Conceição Trucom, avaliou amostras do Sal do Himalaia.
Ela encontrou diversas impurezas e minerais que podem fazer mal para saúde, e constatou
que este sal não tem a adição de iodo. No Brasil, todo sal é iodado, e o iodo é
importante para o bom funcionamento da tireoide. Porém, ainda não consegui
acesso a essa análise.
Então, para entender melhor
a situação, eu resolvi pesquisar em artigos científicos para poder me
posicionar sobre o assunto. E adivinhem... não achei nada nas principais
revistas científicas! Nem sobre benefícios e nem malefícios.
As revistas científicas são
meios de publicação sérias e específicas sobre cada assunto, e os textos nelas
publicados são criteriosamente analisadas e revisados por especialistas de cada
assunto, e possuem certificação quanto à veracidade da pesquisa. O conteúdo
publicado em revistas científicas não deve ser confundido com vídeos e textos
de Dr. X ou Y, que muitas vezes expressam opiniões ou crendices sem comprovação
científica. As condutas clínicas devem sempre se basear em análises químicas e
testes clínicos, de qualidade certificada.
Diversas fontes duvidosas,
contudo, tratam do assunto do Sal do Himalaia:
·
Minerals
in Himalayan Pink Salt: Spectral Analysis (acesso em:
23/10/2017)
Este
site mostra análise dos componentes do sal rosa do Himalaia, porém não cita a
fonte, autores, metodologias, etc., então, seu conteúdo não é confiável (ah!,
olhe que coincidência... o site vende este produto!). Outro aspecto a se
atentar: é até curioso que alguns dos 84 minerais que o site cita são tóxicos
para nosso organismo!
·
Original
Himalayan Crystal Salt (acesso em: 23/10/2017)
Este
site também cita um artigo que supostamente testou os efeitos do sal, porém
este artigo não foi publicado em nenhuma revista científica, mas sim está
contido em um livro. É importante enfatizar que nem todos os livros passam por
avaliação de corpo editorial, portanto, não há controle do conteúdo publicado –
ou seja, nem sempre o que está em livros é verdadeiro ou correto. (E “coincidentemente”,
o site também vende o tal livro e sal do Himalaia...)
·
Analysis
of AromaLife’s “VitaSal” (acesso em: 23/10/2017)
Este
site verifica fontes de flúor em diversos produtos. Verificou a quantidade de
flúor no Sal do Himalaia e chegou a um valor elevado, mostrando um possível
risco no consumo, pois o flúor pode levar a alterações na tireóide.
·
Journal
of Sensory Studies (acesso em: 23/10/2017)
Este
artigo foi o “mais próximo da ciência” que consegui chegar! Ele relata que
outros minerais podem ajudar no paladar e, assim, reduzir a quantidade ingerida
de sal, em comparação com o sal branco refinado (sal de
mesa).
S. L. DRAKE; M. A.
DRAKE. Comparison
of salty taste and time intensity of sea and land salts from around the world.
Journal of Sensory Studies, vol. 26, n. 1, p. 25-34, 2011. DOI: 10.1111/j.1745-459X.2010.00317.x.
Concluindo:
Existe a possibilidade de o consumo do Sal do
Himalaia fazer mal à saúde; além disso, não existe nenhuma prova de que faça
bem. Pelo menos, é o que se encontra nas pesquisas científicas sérias e
referendadas que temos até o presente momento.
Pessoalmente, eu acho que pagar caro em uma promessa
de benefício e ainda levar de graça o risco de consumir alguns minerais tóxicos
não vale a pena!
É importante também ressaltar que nossa saúde
depende da nossa alimentação e de hábitos diários como um todo. Não dá para
jogar toda responsabilidade em um único alimento. Eu não gosto do termo “Super
Alimento” pois nenhum alimento é bom para tudo e nem para todas as pessoas.
E agora qual sal eu uso?
A MINHA recomendação é usar sal grosso marinho iodado (sal integral),
sendo melhor ainda se você o utilizar para preparar o Sal de Ervas (veja receitas aqui!) . O sal
marinho mantém alguns minerais que são retirados durante o refinamento. Se você
preferir consumir sal mais fininho, triture-o em casa (mas tenha em mente que o
sal pode ficar um pouco úmido e grudado). Hoje em dia também existem saleiros
que permitem que você triture o sal na hora do consumo.
Outras referências consultadas:
https://sciencebasedmedicine.org/pink-himalayan-sea-salt-an-update/
http://cienciadanutricao.blogspot.com.br/2016/02/a-ilusao-do-sal-rosa-do-himalaia.html
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