quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Nutri Devo usar o Sal Rosa do Himalaia??



Várias vezes fui questionada pelos meus pacientes sobre o sal rosa do Himalaia. Nunca prescrevi, mas nunca vi motivo para contraindicar... até então.
Nunca prescrevi porque:

·     Não vejo a necessidade de pagar um preço absurdo por um produto importado, sendo que temos opções nacionais de qualidade.

·       Sal (todos os tipos) são ricos principalmente em sódio, que é um nutriente muito importante no nosso organismo, mas o excesso faz mal. A quantidade recomendada de sal por dia é de menos de 5 g (que equivalem a 2000 mg sódio), assim a quantidade de possíveis outros nutrientes presentes no sal fariam pouca diferença na sua dieta.

Entretanto, em setembro passado, em um congresso de nutrição (XIII Congresso Internacional de Nutrição Funcional e Esportiva) surgiu a polêmica: uma pesquisadora, a química Conceição Trucom, avaliou amostras do Sal do Himalaia. Ela encontrou diversas impurezas e minerais que podem fazer mal para saúde, e constatou que este sal não tem a adição de iodo. No Brasil, todo sal é iodado, e o iodo é importante para o bom funcionamento da tireoide. Porém, ainda não consegui acesso a essa análise.

Então, para entender melhor a situação, eu resolvi pesquisar em artigos científicos para poder me posicionar sobre o assunto. E adivinhem... não achei nada nas principais revistas científicas! Nem sobre benefícios e nem malefícios.

As revistas científicas são meios de publicação sérias e específicas sobre cada assunto, e os textos nelas publicados são criteriosamente analisadas e revisados por especialistas de cada assunto, e possuem certificação quanto à veracidade da pesquisa. O conteúdo publicado em revistas científicas não deve ser confundido com vídeos e textos de Dr. X ou Y, que muitas vezes expressam opiniões ou crendices sem comprovação científica. As condutas clínicas devem sempre se basear em análises químicas e testes clínicos, de qualidade certificada.

Diversas fontes duvidosas, contudo, tratam do assunto do Sal do Himalaia:

·         Minerals in Himalayan Pink Salt: Spectral Analysis (acesso em: 23/10/2017)
Este site mostra análise dos componentes do sal rosa do Himalaia, porém não cita a fonte, autores, metodologias, etc., então, seu conteúdo não é confiável (ah!, olhe que coincidência... o site vende este produto!). Outro aspecto a se atentar: é até curioso que alguns dos 84 minerais que o site cita são tóxicos para nosso organismo!

·         Original Himalayan Crystal Salt (acesso em: 23/10/2017)
Este site também cita um artigo que supostamente testou os efeitos do sal, porém este artigo não foi publicado em nenhuma revista científica, mas sim está contido em um livro. É importante enfatizar que nem todos os livros passam por avaliação de corpo editorial, portanto, não há controle do conteúdo publicado – ou seja, nem sempre o que está em livros é verdadeiro ou correto. (E “coincidentemente”, o site também vende o tal livro e sal do Himalaia...)

·         Analysis of AromaLife’s “VitaSal” (acesso em: 23/10/2017)
Este site verifica fontes de flúor em diversos produtos. Verificou a quantidade de flúor no Sal do Himalaia e chegou a um valor elevado, mostrando um possível risco no consumo, pois o flúor pode levar a alterações na tireóide.

·         Journal of Sensory Studies (acesso em: 23/10/2017)
Este artigo foi o “mais próximo da ciência” que consegui chegar! Ele relata que outros minerais podem ajudar no paladar e, assim, reduzir a quantidade ingerida de sal, em comparação com o sal branco refinado (sal de mesa).
S. L. DRAKE; M. A. DRAKE.  Comparison of salty taste and time intensity of sea and land salts from around the world. Journal of Sensory Studies, vol. 26, n. 1, p. 25-34, 2011. DOI: 10.1111/j.1745-459X.2010.00317.x.

  

Concluindo:

Existe a possibilidade de o consumo do Sal do Himalaia fazer mal à saúde; além disso, não existe nenhuma prova de que faça bem. Pelo menos, é o que se encontra nas pesquisas científicas sérias e referendadas que temos até o presente momento.
Pessoalmente, eu acho que pagar caro em uma promessa de benefício e ainda levar de graça o risco de consumir alguns minerais tóxicos não vale a pena!
É importante também ressaltar que nossa saúde depende da nossa alimentação e de hábitos diários como um todo. Não dá para jogar toda responsabilidade em um único alimento. Eu não gosto do termo “Super Alimento” pois nenhum alimento é bom para tudo e nem para todas as pessoas.

E agora qual sal eu uso?

A MINHA recomendação é usar sal grosso marinho iodado (sal integral), sendo melhor ainda se você o utilizar para preparar o Sal de Ervas (veja receitas aqui!) . O sal marinho mantém alguns minerais que são retirados durante o refinamento. Se você preferir consumir sal mais fininho, triture-o em casa (mas tenha em mente que o sal pode ficar um pouco úmido e grudado). Hoje em dia também existem saleiros que permitem que você triture o sal na hora do consumo.


Outras referências consultadas:
https://sciencebasedmedicine.org/pink-himalayan-sea-salt-an-update/
http://cienciadanutricao.blogspot.com.br/2016/02/a-ilusao-do-sal-rosa-do-himalaia.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário